Wednesday, May 23, 2007

Na cidade desalinhada onde eu vivo, há uma senhora - que passarei a designar por Y- com a qual me cruzo quase todos os dias há mais de cinco anos. A senhora Y vive nas ruas, dorme nos jardins, desfalece etilizada nos passeios e, quando chove, abriga-se nas entradas dos edifícios. Come directamente dos contentores onde deitamos o lixo e faz as suas necessidades a ceú aberto. Quando passo por ela, a senhora Y saúda-me de forma entusiástica sempre com o mesmo "Olá, Dona Rosa!". Uma Dona Rosa de um passado muito longínquo, imagino. Resquícios de uma sanidade mental perdida. Estendo-lhe a moedinha piedosa com a qual ela compra cerveja ou cigarros.
Há anos que a senhora Y, em Inglês Y lê-se /wai/, sobrevive nesta urbe. A sua persistência em sobreviver causa as mais variadas reacções: pena, asco, raiva e até revolta. Muitos interrogam-se sobre o porquê - why?- da sua não existência. Contra tudo e contra todos, a senhora Y não se volatiliza.

No comments: